quarta-feira, 12 de outubro de 2011

“A casa caiu”. Do tijolo da mansão ao futuro concreto do arranha-céu. Mansão Wildberger dos fundos da igreja para o noticiário Brasileiro.

Progresso? Sem Casarão, sem “baía” e com mais um desnecessário “espigão”. A polêmica demolição da Mansão Wildberger em estilo medieval alemão em solo baiano.

Texto: Rafael Dantas, Bahia.
História UFBA.

Os muros da Mansão Wildberger. Ao fundo o que sobrou da casa localizada nos fundos da Igreja da Vitória.
Imagem: Jornal A Tarde.
Atualmente o assunto em torno da polêmica demolição da Mansão Wildberger “esfriou” bastante. Desde o triste dia da demolição até recentemente os entulhos e as ruínas do antigo casarão foram substituídos mais uma vez por máquinas. Agora não só para demolir o que restou, mas para acabar o que tivera começado anos atrás. O mais triste é saber que casas de grande valor histórico e arquitetônico vêm sendo demolidas no Corredor da Vitória (Bairro da Vitória), no Bairro da Graça, e em outras localidades da capital baiana [como pode ser visto no Blog em postagens anteriores], que ainda "preservam" o resto do patrimônio que existe em Salvador.

História da Mansão Wildberger.

A história da mansão confunde-se com a própria história do bairro da Vitória e da Graça, já que essas  regiões começaram a receber estrangeiros e membros da elite econômica da Bahia, que decidiram fixar residência fugindo do já ‘tumultuado’ centro da capital baiana. Esses novos moradores, na verdade uma "nova" burguesia crescente na capital baiana, construíram verdadeiros palacetes que já embelezaram e muito esses bairros, inclusive dando a fama ao lugar. Tais características são marcantes afinal estamos falando de um novo momento na urbanização e na arquitetura da capital baiana. Inclusive mexendo com interesses políticos e econômicos do governo da época de J. J. Seabra, isso nas primeiras décadas do século XX.

Antes do atual casarão (Mansão Wildberger) tínhamos nos fundos da Igreja da Vitória, onde se localiza a residência, um imóvel do século XIX onde funcionava o Hotel Bom Sejour. Na época hospedava principalmente comerciantes e visitantes europeus, entre eles, suíços e alemães. No ano de 1937 o imóvel (hotel) daria lugar à mansão da família Wildberger. Segundo informações retiradas do Instituto Goethe (no Corredor da Vitória)¹ o nome da família faz referência a uma pequena vila alemã que fica perto de Stuttgart. Devido às turbulências do século XVII-XVIII, os Wildberger migraram da Alemanha para a Suíça onde fixaram residência. Mas é só no final do século XIX que uma firma importadora de cacau suíça contratou Emil Wildberger, avô da família baiana, para trabalhar com compra de cacau na Bahia. E na Bahia os empreendimentos da família cresceram, e a firma Wildberger passou a ser a maior de todas as exportadoras, tornando-se líder do mercado até o começo da década de 50 do século XX. Emil Wildberger faleceu em 1946, passando o comando para os filhos.

Imagem da Mansão Wildberger, em desenho feito por Rafael Dantas em 30 de março de 2007.
Imagem (desenho): Blog Rafael Dantas, Bahia.

A mansão que até pouco tempo existia possuía forte inspiração na arquitetura medieval alemã, com jardins ingleses e uma bela área verde, além de espetacular vista para a Baía de Todos os Santos - grande privilégio, mas reservado para poucos.
Atualmente a mansão era reservada para eventos, o que foi quebrado pelo som da demolição no marcante dia 28 de janeiro de 2007. Internamente a mansão possuía as mesmas características medievais alemãs da parte externa, com a presença de corrimões em ferro nas escadas, gradis e lustres, vigas em madeiras em alguns cômodos, azulejos decorados, portas redondas, mobiliário antigo de tonalidade escura e espelhos e molduras douradas. A escada circular que dava a volta na salão de entrada - com um grande lustre em ferro pendurado - era um dos destaques. Existem imagens internas da mansão nesse site sobre casamento: [Mansão Wildberger].

Ponto mais que cinematográfico nesse caso foi à ação das máquinas que trabalharam quase às escondidas levando abaixo a fachada e parte do telhado da mansão. O barulho da demolição chamou a atenção dos moradores do local, que ligaram reclamando o ocorrido, já que o barulho excessivo passou dos 72 decibéis; só assim veio à tona o caso da destruição da mansão. Para se ter uma ideia da desorganização e da "culpa" dos responsáveis, já que o IPHAN não tinha autorizado a demolição, o impensável acabou acontecendo. Como já é sabido por muitos quando uma casa é demolida pouco é retirado de sua estrutura, e esse pouco se resume a parte interna: mobília e outros objetos; desta forma gradis e outros elementos decorativos envoltos na construção, ficam a mercê de serem destruídos. No caso da vergonhosa demolição da mansão Wildberger, nem os móveis, cortinas e outros elementos decorativos foram retirados.

Acreditem, no dia da demolição o que ocorreu foi um dos maiores saques conhecidos na capital baiana. Depois que as máquinas pararam devido a chegada da SUCOM as 15h20, algumas pessoas entraram na propriedade e começaram a levar o que encontravam pela frente. E o mais incrível foi que na casa, que deveria ser demolida, caso as máquinas não tivessem sido paradas, estava recheada de móveis, inclusive de algumas antiguidades. Cortinas das salas do imóvel, utensílios domésticos e objetos de decoração dos eventos que ocorriam no lugar, tiveram a partir daquele momento outro destino; diferente da destruição ou mesmo do seu antigo lar. Fato mais incrível foi à descoberta de um anexo da casa (parecido com uma garagem) que teve suas portas abertas, e lá descobriram o “melhor”; aparecia: camas, mesas, cômodas, cadeiras e outros móveis antigos, de vários estilos e alguns, segundo algumas pessoas que estavam no lugar, de Jacarandá; sendo carregados por diversas pessoas. Tal fato não só da um toque quase "cinematográfico" ao triste episódio, como também alerta para a necessidade de se destruir o imóvel sem que ninguém ficasse sabendo; afinal se caminhões de mudança tivessem saídos da propriedade poderiam levantar a suspeita de moradores e atentos. A Polícia Militar chegou e evacuou a mansão para evitar acidentes nos escombros. A demolição da Mansão Wildberger ganhou projeção nacional, alguns sites compararam o acontecimento baiano com a demolição da Mansão dos Matarazzo em São Paulo.
Nessa Imagem do site da Rádio Metrópole podemos observar a vegetação cobrindo os escombros da mansão. Mais uma prova do absurdo, tanto da demolição sem autorização quanto do desrespeito ao patrimônio visual do entorno da Igreja da Vitória. 

Vale lembrar que a Igreja da Vitória foi tombada provisoriamente pelo IPHAN. Com isso seu entorno passaria também a ser tombado incluindo: a mansão, o prédio das clínicas CATO (hoje desfigurado), Aliança Francesa e outros edifícios, inclusive ao longo Avenida Sete, isso em 2005.

Lembrando, o Corredor da Vitória não tem seu patrimônio arquitetônico protegido.
Em especial no caso da Mansão, temos outra questão importante que é justamente a paisagem que ela compõe. Devemos lembrar que a casa fica atrás da Igreja da Vitória e no fundo da casa temos justamente a Baía de Todos os Santos, ou seja, se um prédio for construído atrás da Igreja da Vitória teremos a desfiguração da paisagem quase que "original" do único pedaço visível da Baía de Todos os Santos nessa região (Vitória - Campo Grande). Repetindo o mau exemplo da construção do Morada dos Cardeais no Campo Grande, que desfigurou a paisagem tanto da praça e do caboclo, como da Baía de Todos os Santos.

Se hoje a mansão deu “adeus” imagina os outros casarões históricos da Avenida Sete de Setembro (Corredor da Vitória) que não tiveram a mesma comoção midiática. [Ainda será abordado nesse blog o que aconteceu com os prédios tombados provisoriamente pelo IPHAN. Já posso afirmar que pelo menos um chalé foi demolido, ficava ao lado onde funcionava o curso de inglês UEC, onde hoje temos uma concessionária da Honda no Corredor da Vitoria, clique aqui para ver o artigo].

Obviamente o destino do terreno não é nenhuma novidade. Assim como em grande parte da Cidade de Salvador avanço desordenado do mercado imobiliário está destruindo o verde da Avenida Paralela (como pode ser visto em artigo publicado neste blog) e demolindo o que sobrou dos palacetes e chalés da Vitória. Se por um lado temos o aumento de empregos, por outro temos o terrível avanço sobre o que hoje é simplesmente descartado.

Vários projetos já foram divulgados sobre o empreendimento que será lançado nos fundos da Igreja da Vitória no terreno da Mansão Wildberger, mas por enquanto não foram oficializados (já foram!). Segundo rumores o valor do apartamento mais caro está na faixa dos 10 milhões, sendo um dos empreendimentos mais luxuosos e caros do nordeste brasileiro.
Imagem de um dos projetos da Mansão Wildberger, onde o edifício ficaria no lugar da mansão. É possível observar o choque com o verde.
Imagem:
Encontrada no site Bahia Negócios. 

O mais incrível está justamente na incompetência dos órgãos públicos que não tomam medidas que preservem imediatamente o que sobrou do antigo Bairro da Vitória e sua memória visual. Já sabemos que em Salvador temos vários exemplos de irresponsabilidade, é só olhar o metrô e teremos aquilo que tanto nos envergonha. Dessa vez estão esperando que todos os casarões da Vitória, Graça e demais localidades, sejam demolidos para ai sim preservarem o que não existe mais.

Hoje vem abaixo a Mansão Wildberger e grande parte dos exemplos de casarios de finais do XIX e início do XX da capital baiana. Em 1933 a primeira Sé do Brasil fora “assassinada” por conta de um falso progresso. E no futuro o que resta de um ‘resto’ decaído, submerso no avanço imobiliário, desaparecerá sem deixar adeus. E sim um fraco e melancólico som de tijolos e madeiras caídas ao chão da elite econômica de uma “velha Bahia, que tenta se modernizar sem saber o sentido de tal palavra.
Nesse projeto da Mansão Wildberger, o casarão seria preservado, e os prédios erguer-se-iam nos fundos da propriedade. É visível o impacto com a paisagem da Baía ao fundo.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercty.

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Referências:

Terra Magazine: Texto escrito pelo professor da Escola de Belas Artes da UFBA: Luiz Alberto Ribeiro Freire. E pela arquiteta Alejandra Hernández Muñoz: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1396954-EI6581,00.html
Jornal A Tarde: Boa parte das matérias consultadas fazem parte do acervo pessoal do autor. http://atarde.uol.com.br/noticias/1266424
CREA-BA: http://www.creaba.org.br/Artigo/74/Urbanismo--A-Lei-foi-ao-chao.aspx
Jus Brasil: http://a-tarde-on-line.jusbrasil.com.br/noticias/1936847/mpf-ba-apela-para-retomada-de-processo-da-mansao-wildberger

Imagens: alguns links não estão direcionando para o destino correto, talvez devido o tempo de publicação. No site Skyscrapercity em postagem de calom.neto, temos as imagens 4 e 5: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=962644
Fotos da Mansão Wildberger por dentro: http://casamentao.nafoto.net/photo20060118214918.html

Notas:1. A informação sobre a família Wildberger foi retirada de um cartão informativo presente em uma exposição no Instituto Goethe: http://www.goethe.de/ins/br/sab/ptindex.htm?wt_sc=bahia. 

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Elevador Lacerda e sua História.

Especial: Símbolo maior de uma cidade, monumento cravado na rocha que representa um pedaço da História de Salvador e da Bahia. O Elevador Lacerda magnífico há décadas na encosta das ‘duas cidades’, atualmente (em 2001, quando o texto foi escrito) enfrenta o triste caminho do "descuido" e até mesmo da privatização.
Texto: Rafael Dantas.
História UFBA.
Nessa antiga imagem do final do século XIX podemos desfrutar a bela paisagem da Baía de Todos os Santos, com o movimente porto. À esquerda temos o antigo prédio da Alfândega - atual Mercado Modelo. Quase no centro da imagem a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia na Cidade Baixa. E a Direita o topo da antiga torre do Elevador Lacerda antes da reforma da década de 1930.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity, sem informações de autor e data.
Em 1873 a velha cidade da Bahia receberia mais um grande monumento, além de suas belas e ricas igrejas. Seria a obra idealizada pelo engenheiro Antônio de Lacerda (1837-1885) o mesmo criador da Companhia de Transportes Urbanos, a primeira operadora de trens de Salvador.  A cidade que inicialmente tinha como privilégio o fato de ser uma espécie de “fortaleza”, devido a sua posição elevada em relação ao nível do mar, teria também alguns problemas, justamente devido ao deslocamento entre as duas cidades (alta e baixa) que só era possível graças as suas ladeiras e alguns guindastes existentes, sendo depois desativados. E na época da chuva essas ladeiras viravam um verdadeiro lamaçal dificultando e muito a ‘travessia’. Um elevador facilitaria a locomoção entre a cidade na época, ainda mais interligando o sistema de linhas de bondes: Calçada/Praça Cayru e Graça/Praça Municipal. As obras iniciadas em 1869 seriam inauguradas em Oito de Dezembro de 1873, mesmo dia da comemoração a Nossa Senhora da Conceição da Praia. O material da sua construção veio da Inglaterra, país que exportava outros materiais e produtos para a Bahia, e outras cidades do Brasil e mundo, destacando-se especialmente os belos gradis presentes em diversos casarões.  

Inicialmente funcionou com um sistema hidráulico, e fora chamado justamente de Elevador Hidráulico da Conceição, depois de Elevador do Parafuso. E só em 21 de julho de 1896 foi rebatizado com o nome do seu criador consagrando-se Elevador Antônio de Lacerda, tipicamente simplificado como Elevador Lacerda até hoje. É importante lembrar que foi por decisão do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) a troca do nome em 1896.
O antigo Elevador Lacerda, ainda hidráulico cercado pelo verde da encosta. O antigo Palácio do Governo que aparece no canto direito ainda não tinha sido reformado, isso só aconteceria depois do Bombardeio. Os prédios na parte baixa, onde atualmente temos a Praça Cairu seriam demolidos futuramente.
Fotografia: Rodolfo Lindemann em 1875.
No final do século XIX era o primeiro elevador público e mais alto já construído.

Em imagem (Postal) de 1920 o Elevador Lacerda em companhia com o Palácio do Rio Branco já é um dos destaques da bela paisagem da Cidade de Salvador.
Imagem: 1920 sem informação de autor.

O século XX acarretaria inovações para o conhecido Elevador. Em julho de 1906 precisou parar de funcionar devido às obras de eletrificação, e já no ano seguinte foi reinaugurado. Mas sua maior ‘mudança’ viria em 1930, e um novo estilo entraria em cena juntamente com os outros já existentes no Centro antigo de Salvador, especialmente na Praça Municipal e entorno. O eclético do Palácio do Rio Branco, e da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (ficava onde hoje está o atual prédio da Prefeitura de Salvador), e o neoromântico da Câmara dos Vereadores (antes da reforma da gestão (1961 -1967) do prefeito ACM, que retomou as antigas características coloniais do prédio), juntamente com os outros casarios em estilo colonial que ladeiam o Elevador, passariam a ter a companhia do estilo Art déco. O antigo elevador, esse cravado na rocha, que passa por baixo da ladeira da Montanha e sobe por dentro da encosta até a Praça Municipal, ganharia uma torre (a que está em frente da antiga estrutura) e seria ligada por uma passarela a outra torre já existente equilibrando as cabines. Assim, de duas cabines de 23 passageiros, passaríamos a ter quatro novas cabines com capacidade de 27 pessoas cada uma delas, trazendo um conforto a mais para os usuários da época. A nova obra fora inaugurada em primeiro de janeiro de 1930. Nesse período a propriedade do Elevador Lacerda era da Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, e junto com o novo estilo ganharia também tais modernizações. 

A construção da nova torre e passarela ligando as duas estruturas do Elevador Lacerda inovando a paisagem de Salvador em 1930.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity.

Segundo informações do arquiteto baiano Paulo Ormindo de Azevedo as reformas da década de 30 foram realizadas pela empresa dinamarquesa Christian-Nielsen, pioneira no emprego do concreto armado em grandes estruturas. Através da empresa dinamarquesa surge o convite para o arquiteto da mesma nacionalidade Fleming Thiesen, que realiza o projeto em concordância da Otis Company norte americana. No Brasil o escritório de arquitetura Prentice & Floderer do Rio de Janeiro ‘reajusta’ o projeto. O novo tratamento em Art déco parece está ligado aos princípios aerodinâmicos dos aviões que expressavam a velocidade do elevador que fazia o percurso de 60 metros em apenas 17 segundos.
O concreto armado traria novas características para a velha estrutura. Na década de 30 do século XX o Elevador Lacerda receberia sua aparência atual. Os casarões da parte baixa atualmente estão em ruinas.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity, sem informações de autor e data.

Na década de 50 o Elevador Lacerda passou a fazer parte do patrimônio da Prefeitura Municipal de Salvador. E atualmente (2011) foi cogitada sua privatização pela gestão do Prefeito João Henrique.  
Décadas passariam até a revisão de toda a estrutura arquitetônica do Elevador. Isso só ocorreria no começo dos anos 80. Em sete de Dezembro de 1996 é Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e em 1997 recebe uma nova revisão nos equipamentos elétricos e eletrônicos, ganhando em setembro do mesmo ano iluminação cênica na gestão do prefeito Antônio Imbassahy.

Os “velhos” Guindastes de Salvador (Cidade da Bahia).

Azevedo¹ lembra que antes da construção do século XIX (o projeto de Lacerda) destacam-se: O Guindaste da Fazenda – Um plano inclinado, cuja primeira referência aparece em dezembro de 1609 (gravura guardada em Haia, Holanda), tendo função de transportar mercadorias do porto para a alfândega, situada na Praça do Conselho (atual Praça Municipal). Durante a ocupação holandesa em Salvador (1624-1625) ocorre o aperfeiçoamento duplicando suas trilhas e caçambas, criando um sistema contrabalançado.
Destaque também para as ordens religiosas que tiveram seus guindastes, para facilitar a construção e ampliação de seus conventos. O Guindaste dos Padres transforma-se no século XIX no atual Plano Inclinado Gonçalves. Os carmelitas com Plano Inclinado do Pilar. A Santa casa de Misericórdia também possuía um guindaste entre 1630 e 1690. O Convento de São Bento instalou o seu guindaste que sobrevive até 1813, e no Convento de Santa Tereza, José Antonio de Caldas em 1759 aponta a existência de um guindaste. A importância desses guindastes está relacionada entre outras coisas a expansão da cidade de Salvador, transportando vários materiais vindos do Recôncavo Baiano e outros lugares, sendo essenciais nas novas construções da capital baiana. No final do século XVIII já é visível a decadência e arruinamento desses guindastes. E já em 1860 uma fotografia panorâmica de Benjamin Mudock tomada do Forte do Mar (São Marcelo), confirma a desativação do sistema de guindastes da cidade. 
A fila na Cidade Baixa para pegar o Elevador Lacerda. Hoje a fachada de acesso ao elevador é outra.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity, sem informações de autor e data.

Curiosidade. Os passageiros da estrutura do século XIX tinham que ser pesados antes de entrar nas cabines, devido ao limite máximo de segurança. Esse fato é relatado pelo Barão de Jeremoabo (Cícero Dantas): “Em 16 de março de 1889 pesamo-nos no elevador, dando o seguinte resultado: Pinho - 54 quilos ou 3 arrobas e 98 libras; Cícero  - 61 quilos, ou 4 arrobas e 2 libras; Guimarães – 65 quilos ou 4 arrobas e 10 libras; Artur Rios – 73 quilos ou 4 arrobas e 26 libras; e Vaz Ferreira – 115 quilos, ou 7 arrobas e 20 libras.”
Possuindo 73,5 metros de altura o belíssimo Elevado Lacerda é o principal meio de transporte entre a cidade alta e baixa, transportando 900 mil passageiros por mês (27 mil por dia), com passagem de 15 centavos.

 Devido aos tristes rumores de uma privatização tive a iniciativa de escrever esse artigo. É inadmissível concordar que a privatização seja a solução dos problemas do elevador. Primeiro que privatização não pode ser passada como solução de problemas ou a única saída. Segundo, se a prefeitura de Salvador não consegue gerir um Elevador, imagina uma cidade como Salvador. Falta sim é competência e responsabilidade, com as pessoas e com o patrimônio de uma cidade que aos poucos perde sua “labareda” do que restou da sua História.
Em fotografia da década de 60 o encontro entre as duas cidades Alta e Baixa de Salvador. E o Elevador Lacerda no centro.
Imagem: Arquivo Histórico Municipal de Salvador/ Fundação Gregório de Mattos Prefeitura Municipal de Salvador.

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*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.

http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/10/o-elevador-lacerda-e-sua-historia.html


Referências e indicações:
SAMPAIO, Consuelo Novais. 50 anos de urbanização : Salvador da Bahia no Século XIX. Rio de janeiro : Versal, 2005.
TRINCHÃO, Gláucia. Do Parafuso ao Lacerda Marco da Tecnologia Baiana. Biblioteca Virtual 2 de julho:
http://www.bv2dejulho.ba.gov.br/portal/index.php/exposicoes-virtuais/elevadorlacerda.html
TRINCHÃO, Gláucia. O Parafuso: de meio de transporte a cartão postal. Salvador: EDUFBA 2010.

Patrimônio Histórico de Salvador: Um link entre o passado e o presente; Elevador Lacerda:http://patrimoniodesalvador.wordpress.com/category/elevador-lacerda/
¹ IPHAN: Elevador Lacerda, (arquiteto Paulo Ormindo D. de Azevedo):http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=13933&sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucional
Imagens Utilizadas:
1: Encontrada no site Skyscrapercity: Link não encontrado.
7: Arquivo Histórico Municipal de Salvador/ Fundação Gregório de Mattos Prefeitura Municipal de Salvador.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma Avenida Paralela paralítica que perde seu verde a beira da morte.

Denúncia: A triste situação de uma via cercada pelo verde, que hoje corre o risco de ser murada pelo “aço e concreto”.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/uma-avenida-paralela-paralitica-que.html

Avenida Paralela - Luiz Viana Filho, construída na década de 70 é hoje símbolo do avanço e da destruição.
Imagem: Encontrada no Blog Salvador Tour.

Texto: Rafael Dantas.
História UFBA.


É triste, vergonhoso, absurdo ver, como uma região ainda com tantos “restos de verde”, de matas frondosas - na verdade uma mata atlântica que sucumbe diante o estrondoso crescimento imobiliário em toda a cidade, sofrer com os abusos que estão acontecendo. Essa é a Avenida Paralela, Salvador Bahia.

Fatalmente parece que só no futuro é que nos arrependemos dos erros cometidos no passado - isso quando nos arrependemos. Mas nesse caso o meio ambiente nos obriga a repensar todos os nossos atos. Perante todos os problemas ambientais que acontecem no planeta e as mais diversas evidências de um amanhã nada bom, absurdos como os que acontecem na Avenida Paralela, e em outros lugares do Brasil, só mostram como vulneráveis estamos perante os interesses e a má administração pública. A cada dia o que sobrou de mata atlântica na Avenida vai embora sem dar adeus, pois o barulho das máquinas silenciam o "grito" de socorro da vida existente no lugar.
Desde o início, assim como qualquer construção de grande porte, muito do verde foi a baixo. E com o passar dos anos tal realidade ficaria cada vez mais presente ou mesmo insustentável.

História da Avenida Paralela

Antonio Carlos Magalhães
 governador em 1972.
Imagem: Jornal
Folha de São Paulo.
Seria nas mãos do Governador Antonio Carlos Magalhães - primeiro governo 1971-1975 -  e uma grande equipe de jovens secretários e técnicos, que os ousados planos do engenheiro e geógrafo Mário Leal Ferreira - apresentados na década de 1940 - transformariam a Cidade do Salvador. Décadas antes algumas obras já tinham sido realizadas utilizando os planos de Leal Ferreira, a exemplo da Avenida Centenário no Governo Otávio Mangabeira.
A Avenida Paralela inovaria o estafado solo de Salvador e ousaria com seu grado projeto. Imaginem o susto da população soteropolitana ao saber da notícia que o Centro Administrativo da Bahia (CAB) projeto do arquiteto João da Gama Filgueiras Lima - o Lelé, ficaria no ‘meio do mato’. Mais uma palavra estaria naquele momento associada pelo menos temporariamente ao gestor: “ele está louco¹”. E foi isso mesmo que aconteceu, ACM ousou ao levar tal projeto e seguir com a construção da Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) e junto com o seu secretário de planejamento Mário Kertézs, trazer o então urbanista Lúcio Costa, o mesmo que tivera projetado Brasília, para Salvador. Sobre o CAB Kertézs escreve, "Não necessariamente uma nova cidade, mas uma influência polarizadora, que orientará a expansão urbana em escala metropolitana, daí devendo resultar o zoneamento residencial, comercial e industrial e a preservação de extensas áreas verdes."²

A década de 70 traçaria novos “caminhos" para a Cidade, inclusive com discussões sobre a preservação de parte do verde da região³. A tão falada Avenida de 14 km de extensão nasceu com um enorme canteiro central, motivo que ajudou no aparecimento de críticas de várias pessoas e jornais sobre a "utilidade" da obra.
“A avenida que leva o nada a lugar nenhum”.  
Comentário da década de 70.4
Naquele tempo uma vastdão verde começou a dar lugar a construções em concreto armado modernas e o surgimento de bairros em sua volta. Hoje o próprio futuro do crescimento de Salvador é constantemente cravado no entorno da Avenida. Finalmente Salvador seria pensada em linhas metropolitanas. Hoje absurdamente também está sendo pensada no lucro de poucos e com base no vergonhoso PDDU.
Nesses dois vídeos especiais sobre a morte de Antônio Carlos Magalhães – Recortes de cenas do Programa Rede Bahia Revista (Rede Bahia) de 2007, e o início do Programa Balanço Geral (rede Record) 2007. Podemos observar no primeiro vídeo, as obras para construção das Avenidas de Vale (projeto de M. L. Ferreira) na prefeitura de Antônio Carlos Magalhães (1967 – 1971).

No segundo vídeo especificamente teremos as ações do primeiro Governo de ACM (1971 – 1975), aparecendo imagens da construção do Centro Administrativo da Bahia (CAB) na Avenida Paralela, além de outras ações do seu primeiro Governo; que serão abordadas em outra postagem. E no terceiro vídeo uma reportagem sobre a Avenida Paralela atualmente.



A Devastação do verde da Avenida Paralela

Em 2011 quando passei na Paralela, onde hoje temos o atual Shopping Paralela, tive uma triste visão. Ao ver a área aos fundos do Shopping lembrei que três anos atrás, quando estive na mesma área para ir a um clube, toda a região estava cercada de verde inclusive com riachos. Hoje a vista das janelas da garagem do Shopping era outra, muito diferente do verde de outrora. Era só terra e máquinas escavando o terreno, e mais nada, assustadoramente mais nada.

Não tínhamos 'pedras no caminho’, mas sim grandes máquinas, essas asseguradas por alvarás e tudo que necessário para destruir a região. Assim como acontece em outros bairros da Cidade.

Tristemente o atual visual do entorno da Avenida Paralela é caracterizado por inúmeros prédios que parecem flutuar em meio um mar de restos de matas. Gigantes de concreto que estão acabando com toda a vegetação. O “verde” infelizmente só está presente em alguns nomes desses novos empreendimentos residenciais. A hipocrisia parece reinar na Bahia.

Além de ser o atual vetor de crescimento da Cidade, na Avenida Paralela de hoje temos um retrato das grandes metrópoles com todos os serviços disponíveis em torno de seus vários quilômetros. Congestionamentos em um via que era expressa é um grande problema. Mas, como em todas as grandes capitais, em Salvador e sua grande Avenida “paralela”, o que sobrou do verde é simplesmente destruído. Os pobres animais sem ter onde ficar fogem para as zonas residenciais e comerciais. As grandes e pequenas árvores tombam levando toda a vida do local para ser substituída por outra vida, essa a dos humanos em seus confortáveis apartamentos cercados por um verde que diariamente vai sendo cercado pelo concreto até desaparecer. Paralítica e desmatada a Paralela vai se transformando em um caos, onde Hortos, Parcs e Green estão se tornando as últimas referências de verde na região.

Animais das matas na região da Paralela sem ter para onde ir fogem,
ou mesmo são mortos pelas máquinas ou pelos habitantes, quando não são salvos.
Imagem: Iracema Chequer/Agência A Tarde
Os congestionamentos vieram com tudo em uma Avenida com crescente fluxo de carros.
Imagem: Jornal A Tarde - autor não identificado.

Assim como em sua polêmica e grandiosa construção a atual Avenida Paralela, na verdade seu verde, passa rapidamente para um papel secundário, sendo sombreado pelos altos prédios que um dia poderão tomar conta de todas as lagoas e áreas de uma mata atlântica soteropolitana infelizmente privada - loteada - para destruição.

Avenida Paralela com o canteiro central. Será usado como linha expressa para os trilhos do Metrô.
Na parte superior o Monumento a Luís Eduardo Magalhães.
Imagem: Aratu Oline - sem autor disponível.

Destaque:  
O governador do Estado da Bahia Jaques Wagner e o na época prefeito de Salvador João Henrique, anunciaram no dia 8 de agosto de 2011 que a Avenida Paralela terá a “agradável ou não” companhia dos trilhos do Metrô. Possivelmente passando pelo canteiro central que foi tão criticado no início de sua construção, década de 70, e hoje é uma das soluções para “aliviar” os problemas da Avenida Paralela. O anúncio aconteceu em um dos marcos da Avenida Luiz Viana Filho, o Centro Administrativo da Bahia (CAB).

Notas:
¹ O comentário pode também estar relacionado a ideia na época, de levar trilhos para o canteiro central da Avenida Paralela. O que não aconteceu.
² Ver RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
³ Segundo um entrevistado que conheceu os envolvidos no projeto, incluindo o arquiteto e urbanista Lúcio Costa. A ideia inicial seria de preservar a maior parte das áreas verdes que ladeiam a Avenida Paralela. Mas nada de concreto foi firmado na época. Nas décadas seguintes, várias construções começaram a modificar a Avenida. Nos anos 2000 os inúmeros empreendimentos se intensificaram ameaçando ainda mais a região.
4 Muitas pessoas criticaram a construção da Avenida Paralela. Entre outros pontos, pelo fato da região ainda ser, na década de 70, pouco habitada. 
***
Referências:

RISÉRIO, Antônio. Uma História da Cidade da Bahia. Editora Versal, Rio de Janeiro 2004. pg 588.
RISÉRIO, Antônio. Retrato de Salvador. Jeito Baiano 25 de Outubro de 2009.
Imagens:
Blog Salvador Tour: (Aparentemente o Blog foi desativado). Existe a mesma versão da imagem em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1018369&page=3 
Especial Folha de São Paulo - Morte de ACM: Série de imagem que foram disponibilizadas em matéria especial: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2007/antoniocarlosmagalhaes/ - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2107200704.htm
Jornal A Tarde: (cobra): http://atarde.uol.com.br/index/2576236 (o link não está direcionando para a reportagem original) Presente no Blog: http://professormarcostorres.blogspot.com.br/2010/05/os-sem-florestas-em-salvador-2.html  (Congestionamento): http://atarde.uol.com.br/materias/imprimir/1247253 
Vídeos:
You Tube: "ACM, o melhor Governador da bahia", ACM,  "o melhor governador da bahia 2". Postado por: euodeiovermelho: https://www.youtube.com/watch?v=3NBoYtlsLgk - https://www.youtube.com/watch?v=4oCEjDEsaCs
Desenvolvimento Av. Paralela (Salvador/BA). Postado Bergson Abreu: https://www.youtube.com/watch?v=uOQBv4GrQGc

- Texto atualizado em Junho de 2014 -

*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog.
Atenciosamente Rafael Dantas.





quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Árvores seculares de Salvador. A queda das gigantes.

Avanço imobiliário na região do bairro do Canela derruba últimas árvores centenárias em um bairro que já foi mais verde. E hoje perde o pouco que sobrou para o cruel crescimento de "espigões" residenciais.

Texto: Rafael Dantas, Bahia.
 Na imagem podemos ver o grande terreno com varias árvores,
no lugar será construído o residencial Coletânea Vale do Canela.
Imagem: OLX.
 
Desde a construção das Avenidas de Vale na capital baiana, muito mudou em relação a sua antiga paisagem ainda quase restrita ao Centro de Salvador. A cidade se transformou em um grande canteiro de obras, marcando uma época de grandes transformações no final da década 60 em diante.
 
As novas avenidas rasgaram o velho trazendo o novo, e hoje são um importante meio de locomoção na Cidade de Salvador. Contudo, mesmo com o avanço e o crescimento da cidade, várias árvores - algumas centenárias, conseguiram permanecer em seu lugar original; mesmo com  a construção das grandes avenidas, que em alguns lugares contornam as árvores. Exemplos com esse podem ser vistos no próprio Vale do Canela onde ainda temos árvores no meio da Avenida, ou mesmo ladeando a via.
Atrás do corredor da Vitória, ou nos fundos do Colégio Estadual Odorico Tavares, (na entrada pelo Vale do Canela), temos um belo exemplar de uma árvore centenária, que sobreviveu aos vários obstáculos ao longo dos anos.
 
Mas nem tudo são flores, ou “folha”. Infelizmente acompanhei a derrubada de vários exemplos do 'verde centenário' nesta região. Em 2006, no terreno que fica atrás da Escola de Belas Artes da UFBA, tínhamos uma árvore enorme, de fáceis 25 metros, que mesmo com as interferência naturais e humanas, continuava de pé. Mas o mais triste foi ver justamente a derrubada da árvore sem apresentar qualquer ameaça. (seu tronco ainda ficou no terreno baldio por muito tempo)
 
Próximo ao terreno já citado, tínhamos várias casas, e perto a essas casas também existiam outras árvores. Foi assim que em um dia chuvoso, os galhos de uma dessas árvores atingiram residências nessa região, ‘foi essa a cartada final para semi derrubar as árvores’. No mesmo local (as árvores ficavam ao lado da ligação entre o Campo Grande e o Vale do Canela) tínhamos uma arvore maior ainda, muito parecida com a araucária, que foi cortada.
Esse é o grande terreno onde será lançado o novo empreendimento residencial de Salvador: Coletânea no Bairro do Canela. O verde está dando adeus a esse recanto ao lado da Avenida.
Imagem: Bahia Noticia.

Ainda temos outras árvores centenárias no Vale, mas, a recente ameaça está bem próxima ao triste histórico de descaso com o verde na região. O terreno que fica na Rua Marechal Floriano no Vale do Canela, possuía diversas espécies inclusive centenárias, até a autorização da Superintendência do Meio Ambiente de Salvador (SMA), para o corte de cinco árvores. Uma delas era tão grande que quase alcançava metade da altura do prédio que ficava ao lado do terreno. Em entrevista ao Bahia Noticias, os moradores do Canela lembravam; “tínhamos sim árvores seculares”. Em nota enviada ao site as empresas envolvidas (MAR e Hesa 75) afirmaram que tiveram sim autorização do órgão municipal. As empresas se comprometeram a preservar 13 árvores com diâmetro igual ou superior a 15 cm existentes no local, e doar 126 mudas de espécies de diâmetros diversos.
 
o que realmente representou o acontecimento, foi a frase escrita nos tapumes metálicos improvisados no terreno: “Assassinos de Arvores”. Era assim que os transeuntes avistavam o terreno que terá dois grandes prédios no lugar das centenárias arvores. Inacreditavelmente é que na maquete exibida no 3° piso do Shopping Barra, temos o empreendimento com suas duas torres, e na parte do terreno voltada para o Vale do Canela, a representação das duas árvores centenárias que existiam na região, sendo que uma delas, (a mais alta), foi cortada, agora só temos uma. O nome do novo empreendimento do bairro do Canela será Coletânea.
Podemos ver a realística frase nos tapumes que cercam o futuro empreendimento. Atrás grandes bambuzais esperam o dia de sua triste “queda”.
Imagem: Política Livre.
 
Um dos centenários troncos cortados no terreno.
Imagem: Bahia Noticias.
 
Como se não bastasse todo esse problema, mais um ronda esse absurdo na capital baiana. Segundo informação retirada do site Política Livre, moradores suspeitam do terreno ter sofrido grilagem “por tubarões do mercado imobiliário e publicitário”, afirmando que: “ depois realizaram a venda do terreno para uma empresa de São Paulo que está se especializando em construir nas encostas da cidade”. Entre toda essa ventania destruidora do enorme avanço imobiliário na região, está o movimento, Oxóssi pela Proteção das Árvores Seculares do Vale do Canela; atentos e inclusive fotografando o ocorrido. O grupo começou inicialmente com os moradores do Bairro do Canela, depois cresceu com a adesão e residentes do bairro da Graça e Vitória. Entre eles está o poeta Antonio Lins, e vários advogados voluntários que investigam a suspeita de grilagem do terreno, preparando inclusive uma ação judicial para embargar o empreendimento. Lembrando que há mais de 10 anos tentaram construir no local, mais justamente devido a problemas de licenciamento ambiental a obra não vingou. O movimento contra desmatamento no Canela promete pedir boicote na internet contra futuros imóveis. Entre suspeita de grilagem de terras, claro desmatamento e construção de mais um “espigão”, o Canela aspira que seu verde centenário ou não, seja preservado.


Galhos e velhos troncos das árvores centenárias marcam a paisagem outrora verde do terreno.
Imagem: Política Livre.
 
Sabemos que o verde vende! Mas mesmo assim inúmeras futilidades são postas a frente do que deveria ser preservado. Tudo isso serve de alerta para o cuidado com que os empresários estão tendo com o verde, ainda mais sendo representado por árvores seculares como essas. Cuidado que no caso só foi visto com as réplicas das árvores na maquete, pois na vida real não existe infelizmente, árvore mais centenária que seja para segurar o avanço imobiliário na Bahia.
Derrubada de árvores centenárias no bairro do Canela.
Reprodução: Blog Rafael Dantas, Bahia.

 
*Nas imagens percebemos as árvores (selecionadas em negro), [reparem a dimensão da copa das arvores comparada aos prédios em volta] Arte Rafael Dantas.
1- A maior de todas as árvores (cortada).
2- Ainda existe no local.
3,4 e 5- Outras árvores, (algumas não foram cortadas). *lembrando que todo o terreno é repleto de arvores, só foram destacadas as maiores.

Curta o Blog no Facebook: Blog Rafael Dantas, Bahia.

Agradecimentos: Bahia Noticias, OLX, Política Livre e leitores do sites mencionados.

http://rafaeldantasbahia.blogspot.com/2011/08/arvores-seculares-de-salvador-queda-das.html

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terça-feira, 19 de julho de 2011

Aqui “jaz” a Villa Augusta. Salvador Bahia, Graça

Assim como no Bairro da Vitória mais um casarão pode desaparecer e junto levar o verde, sua História e o sossego.
 Imagem da fachada do casarão denominado Villa Augusta na Avenida Princesa Isabel, Graça.
Imagem: Rafael Dantas.
 

Texto: Rafael Dantas, Bahia.

É interessante e ao mesmo tempo triste, ver como as coisas são catalogadas, avaliadas, ou mesmo destruídas. Os critérios para querer derrubar algo são os mais diversos, vão desde “em nome do avanço (progresso)”, ou mesmo: “em nome do dinheiro”. E no caso os dois exemplos sempre estiveram muito próximos. Resumindo, por todo lugar que olhamos o que observamos é o avanço de ideias e projetos, sobre aquilo que não é mais aceito ou que simplesmente não da mais dinheiro.
 
Toda essa introdução realística e triste da nossa sociedade é para mostrar como o que foi construído em tempos passados é hoje ignorado ou mesmo demolido. E tal introdução implica-se diretamente em mais um grande empreendimento que será lançado no bairro da Graça, para ser mais preciso na Avenida Princesa Isabel, onde hoje temos um belo casarão n° 31, e um vasto terreno com muito verde. Tanto o casarão citado como o “muito verde”, não é garantido de ser visto no futuro. A mansão que lá está é um casa de dois andares de janelas verdes que aparenta ter sido construída, ou ter passado por uma reforma, em meados do século XX. Infelizmente nenhum desses dados assegurou a preservação do casarão. E outras tantas construções antigas - ou mesmo históricas - continuam sendo demolidas em Salvador, como pode ser visto em texto publicado neste blog: http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2013/05/demolindo-propria-historia-o-descaso.html
 
Imagem dos futuros prédios (em construção) da Villa Augusta.
E o que será a entrada do condomínio, onde hoje temos o casarão.
Imagem: OLX.


O casarão possui algumas características especiais, destacando-se uma divisória, na verdade um muro em forma de voluta, logo em sua fachada que parece dividi-la. A murada de entrada chama muito a atenção, com várias colunas, onde as escadas de acesso passam entre elas e direcionam até a fachada. Outro ponto interessante é o fato de existir uma balaustrada em cima desse muro, que é o próprio terreno elevado. Especialmente podemos notar nos balaústres certa particularidade que não é vista em outras construções no Bairro da Graça e redondezas, podendo ser um dos últimos exemplares da região. O gradil em ferro, típico do século XX, está em bom estado de conservação, assim como toda a casa aparentemente.

Um dos destaques vai justamente para as velhas árvores que ficam em frente à residência, trazendo para que avista a antiga mansão uma  profundidade no terreno. E falando em árvores, é o que encontramos em maior quantidade em todo a propriedade, que por sinal é muito grande.
Imagem da fachada do casarão Villa Augusta com o alvará de Construção!
Destaque para a pilastra central com o antigo nome “Villa Augusta” e a murada com os balaústres.
Imagem: Rafael Dantas

Por todos os cantos que olhamos encontramos o verde no terreno, seja a parte que leva da entrada para a garagem, ou os fundos do terreno que encontra com a Rua Oito de Dezembro, também no bairro da Graça. É mais que visível a quantidade de árvores de grande e médio porte existente na propriedade onde será construído o empreendimento. Claro que nesse lugar quase que esquecido, entre os vários edifícios do Bairro da Graça, tanto a casa como o verde, deveriam ser vistos com outros olhos, e não com os olhos do: “a qualquer preço” do mercado imobiliário, como está sendo visto agora.
Imagem capturada da Rua Oito de Dezembro, podemos ter uma ideia da dimensão do terreno.
Percebemos também as várias árvores, inclusive bananeiras.
Imagem: Rafael Dantas

Os fundos do empreendimento voltado para a Rua Oito de Dezembro.
A vegetação em volta do terreno é ilustrativa.
Na verdade o que temos são vários prédios.
Imagem OLX.

Fazendo uma singela análise do Bairro da Graça podemos perceber que são poucos os casarões que conseguiram sobreviver ao avanço dos grandes edifícios. Na própria Avenida Princesa Isabel a maior casa construída no período citado é a que hoje está ameaçada. Os outros casarões em destaque são: o que fica ao lado do Hospital Português, e que milagrosamente ainda esta de pé, e abaixo do casarão (o ameaçado) onde será construída “A Mansão Villa Augusta”, temos outras pequenas casas, de meados do século XX, onde inclusive funciona a famosa sapataria do “Valdemar Calçados”. E no restante de toda a Avenida uns poucos casarões, muito bonitos, mas construídos de meados do século XX em diante, que também possuem suas singulares características: como a casa com a fachada rodeada de azulejos, que fica abaixo do Edifício Módulo, conhecido como “prédio redondo”.
 
Outro ponto de destaque, esse sem dúvida pesará mais para os moradores, é o fato do constante engarrafamento principalmente nos horários de pico, na Avenida Princesa Isabel. Fato é que depois da instalação da “Perini”, uma espécie de mercearia de grande porte, que fica onde antes tínhamos a tradicional Sede do Clube Baiano de Tênis, os engarrafamentos só pioraram, afinal temos agora um grande estacionamento no local da própria Perini. Então se hoje na Avenida Princesa Isabel os motoristas enfrentam todos esses transtornos, imagina se forem construídos os dois prédios do projeto divulgado, cada um com uns vinte andares ou mais, custando a partir de R$ 1.200.000,00 reais cada apartamento, chegando a custar 4 milhões a cobertura! Para se ter uma ideia até a pacata Rua Oito de Dezembro enfrenta problemas neste sentido.
 
O nome do novo empreendimento será como mencionado: Mansão Villa Augusta, e o mais curioso é que em uma das pilastras - na verdade na pilastra central do antigo casarão - temos justamente uma placa em alto relevo com esse mesmo nome, denominando a própria casa que lá existe e que já fora detalhada nesse texto. Até ai claro, entendemos que o novo empreendimento irá homenagear a casa ou a “Villa Augusta”, que ainda existe no lugar. Mas, o curioso é: ‘será nos escombros, produzidos intencionalmente, que uma "homenagem" póstuma, será aplicada’. Afinal a antiga mansão, a maioria das árvores e a memória visual do lugar, virará apenas recordação, ou diretamente falando: Escombros de um Bairro da Graça, ainda com suas grandes mansões, que notabilizaram o lugar, e hoje são tratadas como meras construções a disposição da triste demolição.

O alvará e o nome "Villa Augusta" que ali esteve durante décadas.
Uma das grandes contradições, o que será que vai acontecer?
Infelizmente a resposta poder ser vista atualmente no lugar. Imagem: Rafael Dantas.


*Importante lembrar que a residência pertenceu à família e depois ao próprio Thales de Azevedo, grande médico, professor e intelectual baiano. T. Azevedo nasceu em 26 e agosto de 1904, sendo filho de Ormindo Olympio Pinto de Azevedo e Laurinda Góes de Azevedo. Estudou no Colégio Antônio Vieira, e teve como colegas: Anísio Teixeira, Hélio Simões e Francisco Mangabeira.
 
Em 1922 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, diplomado em 1927, teve entre colegas de turma: Bráulio Xavier Filho, Carlos Rodrigues Moraes, Hosanah de Oliveira, Jorge Valente e José Silveira. Foi revisor do Diário Oficial da Bahia e do Jornal A Tarde.  Outro ponto relevante é seu ingresso na Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais e Letras, criada em 1941. Dentre seus trabalhos destacam-se o “Povoamento da Cidade de Salvador”, obra que o credencia para dirigir a primeira Cadeira de Antropologia e Etnografia do Brasil, na Faculdade de Filosofia da Bahia.
Em sua vida vários foram os fatores que ajudaram a tornar Thales de Azevedo um dos antropólogos e etnólogos mais importantes do Brasil ao lado de outros vultos da Bahia. Faleceu em cinco de agosto de 1995. E lamentavelmente tudo indica que sua casa irá desaparecer em 2013 ou 2014.
 
No site http://www.thalesdeazevedo.com.br/fotos.htm podemos encontrar a galeria de fotos onde Thales de Azevedo é fotografado em seu ambiente de trabalho, possivelmente na Villa Augusta. Além de fotografias da família, na própria residência que pertencia aos pais de T. Azevedo, o que pode indicar o período de sua construção, sendo no início do século XX ou mesmo antes.
Atualmente a casa funciona como escritório ‘temporário’ de vendas do empreendimento, que será lançado no local onde está o casarão. É possível ver dois quadros dos antigos donos da casa na entrada. A memória de décadas hoje se resume ao grande painel de venda dos futuros apartamentos.  

Fontes e Agradecimentos:
Site OLX. (Imagens)
Thales de Azevedo.com (Dados biográficos). E:
Médicos Ilustres da Bahia (Blog).

domingo, 17 de julho de 2011

Uma Vitória exótica indo embora em nome do luxo

Árvores seculares, casarões históricos, micos e o mar, são os "residentes” mais ilustres do bairro.

Texto: Rafael Dantas

Esse belíssimo patrimônio verde mesmo com toda a ameaça ainda pode ser visto na encosta do Corredor da Vitória. Na imagem podemos observar o verde da região. No fundo a copa de uma das poucas grandes e centenárias árvores da encosta. No lado esquerdo destacamos o edifício Morada dos Cardeais, que em sua construção derrubou várias árvores. No canto esquerdo inferior a Gamboa de Baixo que ocupou toda a encosta.
Imagem: encontrada no site Skyscrapercity.
 
Na capital baiana existem vários problemas nos bairros que ainda conseguiram, mesmo com o avanço urbano, preservar o pouco de verde e vida animal ainda presente. No caso do corredor da Vitória esse assunto está mais relacionado com suas velhas árvores, algumas seculares, que conseguiram atravessar as décadas mantendo sua grandiosidade. Como o conhecido caso da mangueira que fica em frente ao Museu Carlos Costa Pinto, só o seu tronco ocupa toda a calçada. Essas árvores representam um pedaço da história de um bairro e suas transformações urbanísticas e paisagísticas ao longo do tempo, verdadeiros símbolos do passar das décadas na região.

Breve História da ocupação no Corredor da Vitória

Nesse cartão postal da década de 20 mostrando uma Vitória antiga, podemos ver a grande mangueira (lado esquerdo) que até hoje existe. Fica em frente ao gradil do Solar Cunha Guedes. No lado direito podemos visualizar o primeiro e grandioso Palacete de Carlos Costa Pinto (demolido), que ficava no terreno ao lado do atual Museu Carlos Costa Pinto. Além do Bonde que ligava o Centro a Barra, e as árvores ainda pequenas que foram plantadas ao longo do calçamento da Avenida Sete de Setembro (Corredor de Vitória). Postal colorizado pela Litho.Typ. Joaquim Ribeiro.
Imagem: Encontrada no site Salvador Antiga - Vitória.

A ocupação da região hoje conhecida como Corredor da Vitória data desde o século XVI, mas é especialmente em finais do século XIX inicio do XX que o lugar começa a ganhar “novas caras” com a chegada de uma nova burguesia baiana que sai do centro antigo de Salvador em busca de lugares mais tranquilos e saneados em solo soteropolitano. No decorrer das décadas do século XX o “corredor” foi tomado por vários casarões que embelezavam os transeuntes da época, uma verdadeira vitrine. Com as transformações arquitetônicas e urbanísticas, além da monstruosa especulação imobiliária especialmente a partir da década de 60, os casarões deram lugar aos grandes edifícios residenciais, um processo cruel para o patrimônio que perdeu exemplares belíssimos de palacetes, chalés e grandes mansões ao longo do corredor. [Para ver o caso da demolição da mansão Wildberger, e outros casarões do Corredor da Vitória click aqui]
As poucas casas que resistiram representam o glamour, à beleza arquitetônica e a História de mais um momento no desenvolvimento da cidade do Salvador.
Mesmo com a beleza e importância tais casarões ainda são demolidos, um dos grandes absurdos da nossa atualidade.
 
Árvores que ladeiam a Avenida Sete de Setembro, (Corredor da Vitória). Comparando essa imagem com o postal anterior (da década de 20) podemos ver como cresceram e ainda estão lá. Um verdadeiro corredor verde.
Imagem: Encontrada no site Skyscrapercity.
 
Claro que com todo esse crescimento no bairro vários problemas, inclusive ambientais, acarretariam para a Vitória preocupações futuras. Ainda hoje, como já observamos, várias árvores conseguiram sobreveviver a essas transformações já que foram plantadas seguindo os planos urbanísticos da época (primeiras décadas do século XX). Apesar de estarmos falando de um centro urbano e um bairro repleto de veículos e pessoas, ainda é possível encontrar animais silvestres. No meio das árvores passando pelos fios telefônicos nos postes, vários micos passam com suas famílias de um lugar para outro, indo de bairro em bairro, procurando comida ou uma árvore melhor para ficar. Fora esse exemplo devemos lembrar dos vários pássaros que todos os dias cantam nas copas das árvores na região.
Tal realidade lembra um fato importante. Antes da crescente ocupação do bairro toda a área era cercada de mata ainda com grandes árvores. As pessoas que passavam de barco no mar e olhavam para o futuro bairro da Vitória (corredor da Vitória), observavam toda a fauna e flora da região, principalmente na escarpa cheia de aves e vegetação, como descreveram alguns viajantes séculos atrás.

O exótico sendo devastado

Especialmente por causa da construção dos grandes prédios no local, a paisagem natural da encosta da Vitória deu lugar a vários píeres de prédios de alto luxo que acabaram parcialmente com o remanescente de mata. Acontece que para construírem esses píeres parte do verde da escarpa é derrubado para abrir passagem aos bondinhos ou escadarias que levam até o píer que fica embaixo, acarretando no corte de várias árvores - algumas seculares. Deve-se ressaltar que não são todos os prédios que possuem píer, e em alguns pontos da encosta ainda é possível perceber o quanto o espaço era e ainda é rico em verde. Hoje quando vista do mar o Corredor da Vitória é infelizmente mais um emaranhado de “espigões”, do que um belo cartão de visitas de uma Bahia "exótica", que não existe mais.

Por fim entendemos o quanto importante são as áreas verdes e históricas existentes em cada bairro. No caso da Vitória com suas velhas árvores, cabe à comunidade preservar esse belo cartão postal da capital baiana e evitar que o pouco que sobrou do seus casarões e do verde da encosta vá embora por conta de uma danosa tentativa de modernidade.

Nessa imagem é visível a cobertura verde da encosta, entre as velhas árvores encontramos os caminhos que levam para os píeres. No canto esquerdo o Edifício Morada dos Cardeais. No canto direito a Mansão Margarida Costa Pinto, o prédio residencial mais alto de Salvador.
Imagem: encontrada no site Skyscrapercity.
O destaque desta imagem vai para os caminhos que levam aos píeres dos prédios de luxo que tomaram o lugar da mata existente. No centro a polêmica Mansão Leonor Calmon, que foi abordada em artigo especial, clique aqui.
Imagem: Encontrada no site OLX.
 
***
 
Imagens:
2: Encontrada no site Salvador Antiga:
http://www.salvador-antiga.com/vitoria/bonde-vitoria.htm
1, 3 e 4: Encontradas no Site Skyscrapercity:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=408318
5: Encontrada no Site OLX. E uma versão no Site Skyscrapercity:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1543990&page=3


*Atenção. A divulgação dos textos e imagens do Blog só pode ser feita com a devida referência do link, nome do autor dos artigos e nome do Blog. Atenciosamente Rafael Dantas.